Ao menos 12 nomes estão envolvidos nas conversas, incluindo Haddad, Boulos e aliados de Bolsonaro
A um ano e meio das eleições, presidenciáveis em potencial despontam nacionalmente e, conforme o cerco se fecha, empurram nomes para a disputa pelo Governo de São Paulo, como ocorreu com Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) —que figuram ao lado de ao menos dez postulantes.
O próprio governador João Doria (PSDB) já admitiu que pode concorrer à reeleição em 2022, e não ao Planalto, seu objetivo inicial, o que contribui para o congestionamento de candidatos para o Palácio dos Bandeirantes.
A fala do tucano, contudo, é vista entre aliados mais como um aceno para composições partidárias do que uma intenção de renovar o mandato. A prioridade de Doria continua ser candidato à Presidência e emplacar o atual vice, Rodrigo Garcia (DEM), em sua cadeira, de preferência filiado ao PSDB.
Foi na esquerda que o xadrez paulista teve as principais mudanças, motivadas pela reabilitação eleitoral do ex-presidente Lula (PT), em março. A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) favorável ao petista empurrou Haddad, então tido como o candidato da legenda, para fora do rol de presidenciáveis.
De toda forma, Haddad tem trabalhado nas duas frentes —mantém o discurso nacional de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto amplia a agenda política no estado.
“É um desejo do PT que ele seja candidato a governador em São Paulo. Acho que temos que construir uma frente democrática, reproduzir a aliança nacional”, afirma Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT.
Por enquanto, Haddad não tem dito se topa ou não a candidatura, mas o partido se animou com seu desempenho em pesquisas. “É precipitado lançar nomes”, diz o ex-prefeito à Folha.
As agendas do petista em São Paulo estavam marcadas desde antes da decisão do STF que devolveu a Lula o direito de se candidatar e faziam parte de um giro pelo país que ele havia começado em fevereiro, por Minas Gerais, e acabou interrompido pelo agravamento da pandemia.
Os compromissos pelo interior, no entanto, têm se intensificado. Foram ao menos seis entrevistas, além de encontros com religiosos e acadêmicos nas regiões de Campinas e Ribeirão Preto. A ideia é mobilizar as bases, falar das propostas do PT e diagnosticar os problemas de cada região do estado.
Nos encontros, Haddad prega a necessidade de uma frente progressista para que haja alternância de poder em São Paulo, estado dominado pelo PSDB.
O discurso de desgaste dos tucanos e cansaço dos eleitores com o partido também é usado por Boulos, que chegou ao segundo turno na eleição para a Prefeitura de São Paulo no ano passado e se cacifou para uma nova campanha à Presidência (a primeira foi em 2018).
Neste mês, porém, ele anunciou em entrevista à Folha que está disposto a concorrer a governador. O psolista, que após a derrota em 2020 afirmou que iria trabalhar pela união da esquerda contra Bolsonaro , prefere evitar um enfrentamento com Lula, de quem é amigo.
Alas do PSOL defendem, contudo, que o partido tenha candidato próprio ao Planalto, como faz desde sua fundação, em 2004.
“A eleição pode ser discutida, mas não pode ser prioridade agora, com milhares de mortes diárias e tantos desafios. O que fiz foi colocar meu nome à disposição para governador, porque acredito que há uma janela de oportunidade para derrotar o ’Tucanistão’, a hegemonia do PSDB no estado”, diz Boulos.
O líder de movimentos de moradia afirma que tem costurado uma frente do campo progressista e vê na coalizão a única forma de fazer frente ao aparato tucano. Ele nega, no entanto, que sua pré-candidatura seja uma forma de pressionar por apoio do PT em troca do endosso do PSOL a Lula.
“A relação política não se dá nesses termos. O que tenho dito é que a unidade exige gestos de parte a parte e reciprocidade, além de discussão programática e visão estratégica”, afirma Boulos, que também tem estreitado laços com líderes políticos e sociais no interior do estado, onde é menos conhecido.
Membros do PT veem possibilidade de uma aliança com o PSOL no estado, embora uma chapa específica com Haddad e Boulos seja considerada improvável.
Há rivalidade eleitoral entre partidos aliados também em relação a Doria e Garcia. O PSDB já convidou o vice a se filiar, e tucanos próximos do governador acreditam que ele fará a migração. Por outro lado, Garcia é pressionado pelo DEM a ficar e pondera os efeitos da imagem desgastada do PSDB.
A filiação resolveria a demanda dos tucanos por um candidato próprio no estado que governam, com breves interrupções, desde 1995. Procurado pela reportagem, Garcia não se manifestou.
“Rodrigo Garcia tem mais de 30 anos de trabalho junto com os governos do PSDB e é parte da nossa história”, afirma Marco Vinholi, presidente do PSDB paulista. “Ele tem no seu DNA os nossos princípios e valores. Será fundamental para o futuro do partido que o governador João Doria tanto tem construído.”
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém, mantém conversas e giros pelo interior com a intenção de viabilizar sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, que ocupou por cerca de 12 anos.
No PSDB, porém, Alckmin poderia ter que brigar por espaço com Garcia —o grupo de Doria o quer como candidato ao Senado. A candidatura do ex-governador via PSDB está atrelada ao acerto nacional em torno de Doria e do DEM.
Por isso, interlocutores de Alckmin já se movimentam em torno de um plano B, como a filiação dele ao PSL ou ao PSB, além de aproximação com o PSD, de Gilberto Kassab.
“O PSDB é a prioridade tanto para o Geraldo quanto para o grupo dele. Pela história, porque ele foi fundador [da legenda]. Mas o Geraldo será candidato, seja pelo PSDB ou outro partido”, diz o ex-deputado estadual Pedro Tobias, articulador de Alckmin.
Segundo Tobias, a militância é que vai definir se há espaço para o ex-governador no PSDB. O ideal, de acordo com ele, seria repetir a chapa do pleito de 2014, com o também ex-governador Márcio França (PSB) de vice. “A eleição estaria ganha”, diz.
França tem feito esforços para atrair Alckmin para o PSB e vê com entusiasmo a repetição da parceria. Ao mesmo tempo, ele —que chegou ao segundo turno contra Doria em 2018 e disputou a prefeitura da capital em 2020, terminando em terceiro lugar— abriu um canal de diálogo com o PT.
“Essa dobradinha com o Geraldo é muito competitiva. Sou forte na capital, Grande São Paulo, ABC e Baixada [Santista], e ele é muito querido no interior”, valoriza França. “Qualquer decisão vai ser tomada em acordo com a orientação do meu partido no plano nacional”, diz o dirigente do PSB.
Procurado, Alckmin não se manifestou.
O PSL, que está disposto a acolher o tucano, tem afirmado que terá candidatura própria. O nome escolhido era o do senador Major Olímpio, que morreu de Covid-19 no mês passado. Agora, o partido considera mais viável a filiação de um novo quadro do que lançar um de seus membros.
Duas campeãs de votos da legenda em 2018, a deputada federal Joice Hasselmann perdeu força depois do desempenho fraco na eleição paulistana e a deputada estadual Janaina Paschoal mira o Senado.
O presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella, afirma que as portas estão abertas para Alckmin e menciona também o deputado estadual Arthur do Val (Patriota), o Mamãe Falei.
“A gente quer ter protagonismo. Em São Paulo, não vamos fazer nenhum laboratório ou aventura que possa nos tirar a possibilidade do objetivo maior que é construir uma bancada forte de deputados federais”, diz.
Representante da direita anti-Bolsonaro, Arthur afirma que, a princípio, ficará no Patriota, mas que busca alianças para quebrar a hegemonia do PSDB com partidos como PSL e Novo. O deputado estadual diz que buscaria outro partido caso o presidente se filie ao Patriota, algo que ele considera hoje improvável.
“Vejo a candidatura ao governo como uma missão para a qual estou preparado. É uma eleição possível”, diz ele, que surpreendeu na eleição para prefeito da capital, alcançando quase 10% dos votos.
No Novo, que fará um processo seletivo para definir o postulante a governador, o deputado federal Vinicius Poit já se apresentou como pré-candidato. “Estou montando um plano de governo. Precisamos de alguém que saiba dialogar, que lute por São Paulo. As pessoas não querem mais do mesmo”, diz.
Aliados de Bolsonaro também se movimentam em busca de um palanque no estado para o presidente. Alguns nomes estudados são o do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, o do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL) e o do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Entre militantes bolsonaristas, a ideia é formar uma única chapa conservadora, para não dispersar votos. O deputado estadual Douglas Garcia (PTB) afirma que seu partido está aberto a abrigar a candidatura pró-Bolsonaro em São Paulo e diz ver Luiz Philippe e Weintraub como “ótimas opções”.
O deputado federal disse estar disposto a concorrer. Aliados de Weintraub confirmam que o diretor-executivo do Banco Mundial estuda ser candidato, mas não definiu cargo ou partido. Salles respondeu à Folha que não está tratando de eleições, “mas governador estaria de qualquer jeito fora de questão”.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf (MDB), também pode buscar o posto de candidato bolsonarista no estado. Como o MDB tende a apoiar Garcia, o mais provável é que Skaf se filie ao mesmo partido no qual o presidente Bolsonaro deve ingressar.
Pré-candidatos ao Governo de São Paulo em 2022:
Abraham Weintraub (sem partido)
Arthur do Val (Patriota)
Fernando Haddad (PT)
Geraldo Alckmin (PSDB)
Guilherme Boulos (PSOL)
João Doria (PSDB)
Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL)
Márcio França (PSB)
Paulo Skaf (MDB)
Ricardo Salles (sem partido)
Rodrigo Garcia (DEM)
Vinicius Poit (Novo)