Com a pressão da gasolina mais cara, a prévia da inflação oficial no Brasil teve variação de 1,17% em novembro. É a maior marca para o mês desde 2002, informou nesta quinta-feira (25) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O dado integra o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). Em outubro, o indicador havia registrado uma taxa ainda maior, de 1,20%.
A variação de novembro ficou um pouco acima das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam avanço de 1,13%.
Com o resultado de novembro, a prévia da inflação alcançou 10,73% no acumulado de 12 meses. Ou seja, permanece em dois dígitos até outubro, estava em 10,34%.
O índice oficial de inflação do Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também calculado pelo IBGE.
O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Por isso, é conhecido como uma prévia.
Em 12 meses, o IPCA-15 é mais do que o dobro do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA. O teto da meta em 2021 é de 5,25%. O centro é de 3,75%.
Em novembro, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, no IPCA-15, tiveram alta de preços. A maior variação (2,89%) e o principal impacto no índice (0,61 ponto percentual) vieram dos transportes.
Nesse grupo, houve a influência da gasolina, que teve alta de 6,62%. O combustível registrou o maior impacto individual no IPCA-15 de novembro (0,40 ponto percentual).
No ano, a gasolina acumula disparada de 44,83%. Em 12 meses, a alta é ainda maior, de 48%.
Outro destaque em novembro foi o transporte por aplicativo, que subiu 16,23%, após avançar 11,60% em outubro.
Por outro lado, houve redução nos preços das passagens aéreas (-6,34%), após altas consecutivas em setembro (28,76%) e outubro (34,35%).
Depois dos transportes, os grupos que mais impactaram o IPCA-15 foram habitação (1,06%) e saúde e cuidados pessoais (0,80%). Os pesos no índice de novembro foram de 0,17 ponto percentual e 0,10 ponto percentual, respectivamente.
Em habitação, a maior contribuição veio do gás de botijão (4,34%). Os preços do item subiram pelo 18° mês consecutivo, acumulando 51,05% de alta no período iniciado em junho de 2020.
A energia elétrica (0,93%), por sua vez, teve variação menor do que em outubro (3,91%). Contribuiu com 0,05 p.p. no índice deste mês.
Desde setembro, o país convive com a bandeira tarifária de escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh (quilowatt-hora) de consumo.
O grupo de saúde e cuidados pessoais, por sua vez, foi influenciado pelos itens de higiene pessoal (1,65%) e produtos farmacêuticos (1,13%).
A escalada da inflação tomou forma ao longo da pandemia. Após paralisar cadeias produtivas globais, a Covid-19 gerou gargalos de abastecimento de insumos em setores diversos. O reflexo da escassez de matérias-primas foi a subida de preços no mercado internacional.
No Brasil, essa pressão de custos foi intensificada pela desvalorização do real ante o dólar. Em meio a tensões na área política e incertezas fiscais, a moeda brasileira ficou fragilizada na comparação com a americana.
A taxa de câmbio é um dos critérios usados pela Petrobras para definir os preços dos combustíveis em suas refinarias. Logo, ao subir, o dólar impacta itens como óleo diesel e gasolina no Brasil.
Não bastasse a alta dos combustíveis, que encarece o transporte de mercadorias e passageiros, o país também foi afetado neste ano pela crise hídrica.
A falta de chuva forçou o acionamento de usinas térmicas, com custos mais altos para geração de energia elétrica. O resultado disso é a conta de luz mais alta nos lares brasileiros.
A seca ainda prejudicou plantações no país, pressionando os valores de alimentos até as gôndolas dos supermercados.
Devido à escalada da inflação, analistas do mercado financeiro vêm subindo as projeções para o IPCA deste ano.
A estimativa mais recente que aparece no boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira (22), indica avanço de 10,12% ao final de 2021. A projeção chegou a dois dígitos após o mercado enxergar riscos fiscais maiores para o Brasil.
A ameaça para o rumo das contas públicas ficou mais nítida no final de outubro, depois de o governo federal colocar em xeque o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família.
A incerteza fiscal é considerada um fator que pode afastar investidores do país, deixando o real desvalorizado frente ao dólar.